Alfabetização: como se planejar para as aulas e construir atividades alinhadas à BNCC

Alfabetização: como se planejar para as aulas e construir atividades alinhadas à BNCC

Olá professores e leitores! Hoje trago uma dica sobre Alfabetização: como se planejar para as aulas e construir atividades alinhadas à BNCC!

Como alfabetizadora, após um ano de pandemia cheguei à conclusão de que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi o principal documento orientador dos caminhos traçados para o ensino remoto. Em meio a tantas dúvidas, incertezas e preocupações com a aprendizagem dos alunos, uma coisa era certa: sabíamos quais habilidades teríamos que explorar e desenvolver para a alfabetizá-los. Fico pensando como teria sido ainda mais difícil esse período se não tivéssemos nossos currículos construídos a partir da Base e da clareza das aprendizagens que ela traz.

Veja Mais: Escrita espontânea na alfabetização: o que significa e como aplicá-la

Mas, se por um lado, sabíamos o caminho, por outro, tivemos o grande desafio de aprender o “como fazer”. Esse foi meu principal questionamento (mesmo depois de mais de 30  anos de vivências e experiências em sala de aula) e, com certeza, foi também o de muitos outros alfabetizadores nesse período. Penso que não há uma única resposta, mas que todas elas passam por um bom planejamento. Foi também por isso que, durante a pandemia, li e estudei ainda mais: fiz cursos online, debati com colegas de profissão, compartilhei e troquei experiências, me inspirei em materiais de referência. Nesse movimento, descobri que o grande desafio que nos foi colocado também nos levou a novas possibilidades para o desenvolvimento do processo de alfabetização.

Primeiros passos do planejamento aplicado na prática
O bom planejamento das nossas aulas na alfabetização leva em conta alguns elementos fundamentais, como:

  1. o currículo (competências e habilidades previstas para o ano em questão);
  2. a clareza do objetivo da aula (intencionalidade pedagógica);
  3. o diagnóstico do que os alunos já sabem e o que ainda precisam aprender;
  4. a boa seleção de materiais de apoio e de referência;
  5. a definição da metodologia e de quais instrumentos e estratégias são as mais adequadas para a aprendizagem;
  6.  a organização do tempo e espaço na rotina de estudos;
  7. o conhecimento prévio do formato do ensino possível para sua turma de acordo com a realidade do aluno (ainda mais agora em tempos de pandemia).

Para começar meu planejamento de aula, o primeiro passo é ter em mãos o currículo e o diagnóstico da turma. É a partir da combinação dos dois, baseado nas necessidades de aprendizagem dos alunos, que defino o objetivo das atividades. Quando começamos o planejamento a partir das atividades que queremos dar – o que muitas vezes fazemos –, há uma grande chance de acontecer desvios e distorções da intencionalidade pensada inicialmente. Isso acontece porque, ao fazer o caminho inverso (tentar encaixar uma atividade num objetivo de aprendizagem), nem sempre atendemos aos elementos fundamentais que envolvem um planejamento coerente e de acordo com as necessidades de aprendizagens dos alunos.

Dica para escolher bem as atividades

Para organizar o estudo e agilizar seu tempo na busca de atividades, o professor pode criar um banco de atividades organizando-as por habilidades. Assim, por exemplo, quando você tiver definido o objetivo da aula, é só buscar entre os seus materiais, a mais adequada para explorar com os alunos. Para multiplicar as ideias, é possível inclusive combinar entre os colegas de fazer um banco de atividades colaborativo (no Google Drive, por exemplo).

Um dos elementos mais importantes no planejamento das nossas aulas é uma análise cuidadosa do diagnóstico da turma para propor práticas que atendam os diferentes níveis de aprendizagem entre os alunos. Mesmo quando estamos explorando a mesma habilidade com todos, a proposta pode variar para cada grupo de aluno. Usando um exemplo de habilidade da BNCC:

(EF12LP04) Ler e compreender, em colaboração com os colegas e com a ajuda do professor ou já com certa autonomia, listas, agendas, calendários, avisos, convites, receitas, instruções de montagem (digitais ou impressos), dentre outros gêneros do campo da vida cotidiana, considerando a situação comunicativa e o tema/assunto do texto e relacionando sua forma de organização à sua finalidade.

Se um determinado grupo já lê com autonomia, diferentemente de outro que ainda precisa do apoio na leitura, não é adequado propor a atividade a ser feita da mesma forma para todos. Precisamos pensar em variações na complexidade. A própria habilidade já vai indicando esse caminho. Assim, por exemplo, se a proposta é que as crianças leiam uma lista de compras de supermercado:

  • alunos com autonomia leem sozinhos e podem, a partir da leitura da lista, separar produtos alimentícios de outros itens (como produtos de limpeza);
  • os que tem autonomia média podem ler em pares (alunos com hipóteses próximas), fazendo a mesma separação que a proposta para o primeiro grupo;
  • os ainda sem autonomia na leitura, podem ser colocados para ler em pares e também individualmente, mas com o apoio e intervenção pontual e mais personalizada do professor – que vai ditando palavras da lista, ao mesmo tempo que vai fazendo perguntas que os façam refletir sobre a escrita.

Mas como diagnosticar a fase da aprendizagem que o aluno se encontra no ensino remoto? Realmente é um desafio para todos nós alfabetizadores. Em 2020, fiz a sondagem via Google Meet e chamada de WhatsApp com alguns alunos. A família apoiava na organização e acesso, mas sem fazer interferências. Era eu e o aluno. Demora muito mais que fazer em sala de aula presencialmente, mas funciona bem. Já no presencial, tenho visto professores recebendo um aluno a cada hora – de forma que não haja aglomeração e seguindo os protocolos de segurança  – para fazer a sondagem.

Minha rotina de planejamento
No ensino presencial, planejo minhas aulas semanalmente; no remoto, quinzenalmente. No semanal, faço um quadro de rotinas, com colunas de segunda a sexta-feira, em que distribuo as atividades de acordo com as habilidades selecionadas como prioritárias .

No planejamento da rotina de alfabetização, todos os dias estão previstas atividades de Língua Portuguesa distribuídas entre leitura/escuta, escrita, oralidade e análise linguística/semiótica (bem dentro do que explicita a BNCC). Entrego as propostas para a coordenação pedagógica em formato digital, envio nos grupos para as famílias e imprimo para seguir durante a aula.

Costumo combinar e usar temas de História, Geografia e Ciências, integrando-os nas práticas de Língua Portuguesa. Como, por exemplo, o uso de máscaras (tema de cuidados de saúde em Ciências) rendem boas situações de leitura e escrita em Língua Portuguesa. Dessa forma, aproveito e organizo melhor os tempos na rotina.

Tenho muitos cadernos de anotação de vários anos. Para mim, são “tesouros” em que vou registrando ideias, descobertas na aprendizagem dos alunos, materiais de referência inspiradores, possíveis projetos, entre tantas outras reflexões que surgem no dia a dia docente. Também registro links interessantes e outros conteúdos que encontro na internet em um documento Word. Agora estou aprendendo a buscar inspirações com o Tiktok! Já selecionei 30 conteúdos super bacanas para aprimorar minhas práticas em sala de aula. Essas anotações todas são boas fontes de consulta que facilitam meu trabalho em sala de aula. Para quem busca inspiração, os planos de aula NOVA ESCOLA são uma ótima sugestão.

Na minha rotina estão previstas também pelo menos uma sequência didática por mês e uma ou duas atividades de projetos mais especiais – geralmente aqueles mais elaborados que são definidos em conjunto com meu grupo de colegas da alfabetização na escola. Neste momento, estamos conversando sobre a possibilidade de elaborarmos juntas um projeto especial de leitura de poemas.

O que estou planejando
Para a minha turma do ensino remoto neste ano, por enquanto, a proposta será de sondagem online. Estamos usando o WhatsApp para a comunicação e certa interação com os alunos. Entretanto, assim que voltarmos presencialmente, eu e minhas colegas faremos nossa avaliação diagnóstica também presencialmente. Essa parceria também está se dando na preparação para o retorno presencial e na construção da nossa proposta de ensino híbrido.

Acreditamos que o modelo pode ser uma ótima metodologia e estratégia para alfabetizar, mas nosso desafio será conseguir que todos tenham acesso, já que nossa realidade é complexa e de muitas desigualdades. Não queremos construir algo que se resuma a mescla de aulas presenciais e aulas online e uso de recursos tecnológicos. Por isso, vamos enviar uma pesquisa para as famílias para entendermos mais as realidades dos nossos alunos, tanto em relação ao acesso digital, quanto à participação dos estudos para pensarmos alternativas.

Ainda para o ensino híbrido, estamos estudando e compartilhando saberes entre os colegas porque queremos usar tudo o que for possível em nossas aulas: podcast, playlists, músicas, plataformas, dinâmicas e muito mais. Eu, por exemplo, ensinarei sobre o uso de murais digitais.

Para todas essas atividades, estamos dando nosso melhor, em estudos e trabalho colaborativo. As palavras de ordem para o nosso planejamento de alfabetizadores são: prioridades no currículo, estudo, flexibilidade, colaboração e compartilhamento de saberes. Para este ano, eu e minhas colegas alfabetizadoras, queremos também consolidar e ampliar as parcerias com as famílias de nossos alunos principalmente nos projetos, para que percebam o quanto são importantes para a aprendizagem das crianças. Para o ensino remoto (e depois também no híbrido), estamos preparando  materiais para apoiar o ensino em casa, como caixas matemáticas, mala viajante de leitura, materiais para criar um ambiente alfabetizador na casa das crianças com alfabeto móvel, crachás de mesa e outros itens. Tudo para que os alunos tenham referências e suporte para a aprendizagem.

Ideias e sugestões
E como anda seu planejamento? Há muito o que explorar com as crianças, seja na sala de aula ou a distância. No ensino remoto, com o auxílio da tecnologia em aplicativos, principalmente o WhatsApp, é possível propor muitas práticas de alfabetização. Dá para criar rotinas de leitura, de escrita e oralidade, possíveis de serem realizadas no contexto familiar com vídeos, áudios e tutorais escritos de orientações para os responsáveis. Na leitura, por exemplo, uma possível rotina de leitura poderia ser assim:

  • Segunda-feira: envio de um vídeo gravado ou realização de uma vídeo-chamada de uma leitura feita pelo professor;
  • Terça-feira: as crianças ouvem um podcast de contos tradicionais indicado pelo docente;
  • Quarta-feira: a leitura fica por conta da família, que deve contar uma história oralmente;
  • Quinta-feira: mesmo modelo da segunda, com a leitura sendo feita pelo docente;
  • Sexta-feira: a família lê um livro enviado pela escola ou por meio de um PDF enviado no grupo de WhatsApp da turma. Se o aluno já tiver autonomia, ele pode ler para a família.

Para o ensino híbrido, no contexto familiar com apoio de recursos tecnológicos, aumentam ainda mais as possibilidades na alfabetização. Na escrita, gostaria de compartilhar uma proposta com sugestões que podem ser incluídas em uma rotina semanal da turma:

  • Em casa: as crianças ouvem e participam da leitura de um livro de literatura infantil com a família, assistem vídeos curtos que exploram o tema da aula na escrita, participam de jogos online relacionados à leitura, fazem uma tarefa prévia de escrita relacionada às atividades anteriores.
  • Na sala de aula: usam todo repertório adquirido com as atividades e referências exploradas em casa para então participar da atividade principal de produção textual proposta e acompanhada pelo professor. Então, fazemos um diagnóstico da aprendizagem para ver se foi realmente efetiva.

Fonte: https://novaescola.org.br/

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