Novo Ensino Médio: ‘Não podemos permitir que exista uma escola para jovens ricos e outra para os pobres’, defende pedagoga
Um ano após a implementação do novo Ensino Médio em todas as escolas públicas e privadas do país, autoridades no campo da educação ainda avaliam como a implementação das mudanças na grade curricular dos estudantes pode ser aperfeiçoada.
No estado de São Paulo, o secretário de Educação, Renato Feder, diz que estuda reduzir as opções do chamado itinerário formativo dos estudantes – conjuntos de disciplinas focados em uma ou mais áreas específicas do conhecimento.
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A ideia de uma grade curricular flexível seria contribuir para um ensino profissionalizante, com formação técnica voltado para o mercado de trabalho. Na rede pública, disciplinas como “brigadeiro caseiro” acabam ganhando espaço, em detrimento de grades curriculares mais tradicionais, como história e sociologia.
A pedagoga Anna Helena Altenfelder defende que essas lacunas ainda não corrigidas acabam ampliando desigualdades históricas e precarizando a educação dos jovens.
“Qualquer política educacional no Brasil precisa, antes de mais nada, pensar no enfrentamento das desigualdades”, afirma Altenfelder em entrevista ao O Assunto.
“Nós não podemos admitir, nem permitir que exista uma escola para os ricos e outras para os pobres e que qualquer coisa serve para a maioria da população, muito pelo contrário. Não posso imaginar o que brigadeiro caseiro pode trazer de contribuição para o desenvolvimento da cidadania, para uma inserção no mercado de trabalho, para efetivamente o desenvolvimento integral. Esse é um risco que já era apontado”, diz.
Disciplinas viram áreas do conhecimento
A grade curricular das escolas públicas e privadas de ensino médio não terão mais o formato utilizado até então em que as disciplinas eram individuais, graças à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Agora, os conteúdos serão divididos em áreas do conhecimento de maneira similar à que acontece no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Serão elas:
linguagens e suas tecnologias;
matemática e suas tecnologias;
ciências da natureza e suas tecnologias;
ciências humanas e sociais aplicadas;
Estas divisões vão abranger Língua Portuguesa, Arte, Educação Física, Língua Inglesa, Matemática, Biologia, Física, Química, Filosofia, Geografia, História e Sociologia. Ou seja, nenhuma disciplina será excluída do currículo atual, elas somente serão trabalhadas de maneira diferente do que era feito até então.
Itinerários formativos
Os itinerários formativos são a maior novidade no novo ensino médio. Eles serão optativos, escolhidos de acordo com a vontade do estudante e da oferta da instituição e serão compostos para se aprofundar nos conhecimentos das seguintes áreas:
linguagens e suas tecnologias;
matemática e suas tecnologias;
ciências da natureza e suas tecnologias;
ciências humanas e sociais aplicadas;
formação técnica e profissional.
Na prática, vai funcionar assim: o aluno terá em sua grade as quatro áreas do conhecimento divididas por ano ou por semestre, a depender da escola, e poderá escolher uma disciplina extra para se aprofundar em uma das áreas ou na formação técnica e profissional.
Por exemplo, a escola pode oferecer um itinerário de comunicação, no campo de linguagens e suas tecnologias, e outro de meio ambiente e sociedade em ciências da natureza, e o estudante terá a liberdade de optar qual itinerário cumprir.
O objetivo desta implementação é fazer com que o aluno saia do ensino médio com uma formação ou conhecimentos específicos que o ajude a adentrar o mercado de trabalho sem precisar de um diploma de formação superior.
Esta parte da grade curricular ocupará 1.200 horas do ensino médio, divididas nos três anos da fase escolar. O aluno poderá iniciar o itinerário escolhido no 1º ano caso esteja disponível em sua escola.
Vale ressaltar que as redes públicas e particulares terão autonomia para definir quantos e quais itinerários formativos irão ofertar. Uma rede pode decidir ofertar apenas dois itinerários, enquanto outra pode oferecer 15, pro exemplo.
Também é importante saber que não é garantido que o aluno terá vaga assegurada no itinerário que escolher, especialmente na formação profissionalizante, já que o número de vagas será limitado em cada oferta disponibilizada. Portanto, o estudante terá liberdade para pleitear vaga em outra instituição de ensino que ofereça um itinerário que mais lhe interesse.