Para além da adaptação: o que é acolhimento na Educação Infantil?
Olá professoras e professores! Enquanto escrevo estas linhas para trocar algumas reflexões com vocês, estou me dedicando também no preparo para receber os meninos e meninas da minha turma de crianças bem pequenas. Em 2022, meu grupo será composto por cerca de vinte crianças, divididas entre o período matutino, vespertino e aquelas que frequentam o horário integral.
Além de compartilhar esses meus preparativos, penso que também é o momento ideal para trazer a essa coluna uma conversa a respeito do que significa o acolhimento na Educação Infantil – e por que estamos nos desprendendo um pouco do termo ‘adaptação’.
Explico: nesse período que envolve a volta à escola, estamos falando de (re)encontro e abertura, mas não devemos somente focar no ‘abrir as portas’ da escola, e sim, precisamos entender que a abertura aqui é no sentido de abrir-se para um olhar e uma escuta atentas aos pequenos.
Assim, quando entramos nessa dimensão do acolhimento, compreendemos que é uma abordagem que entende a criança em sua integralidade, vendo-a como alguém que tem uma história e um contexto – e essa dinâmica vai além da mera adaptação e atravessa a função social da escola e as competências do professor, num movimento constante que acontece em várias direções e que requer o envolvimento de todos.
Curso: Atividades de Educação Infantil: Planejamentos alinhados à BNCC
Neste curso, você conhecerá experiências e sugestões que ajudam a realizar um planejamento alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e voltado aos interesses e à perspectiva das crianças que frequentam a Educação Infantil.]
Volta às atividades na escola: acolhimento vai além de adaptação
Colocando em prática o que compartilhei com vocês na nossa última conversa, a equipe da minha escola buscou organizar um espaço aconchegante, com referências que convidam, acolhem e revelam a identidade e histórico da nossa instituição – só que, por ainda estarmos lidando com uma situação de pandemia, alguns cuidados seguem necessários, como o tipo de material exposto, a regularidade de higienização e o distanciamento entre grupos.
Seguindo nesse trabalho com foco em receber bem as crianças e famílias, elaborei um questionário em busca de informações atualizadas. Nele, pais e mães relataram aspectos sobre alimentação, sono, atividades realizadas no período de férias, tempo de consumo de telas e preferências dos pequenos, fornecendo dados importantes para conhecermos cada um da turma e para organizar as primeiras vivências.
Porém, mesmo com todo esse preparo prévio, sabemos que o choro será nossa companhia – e não há problema algum nisso, já que esse manifesto dos bebês e crianças pequenas ainda é a principal forma de expressão e linguagem, que nos comunica que a mudança na rotina e o contato com pessoas diferentes está provocando algo nelas.
É justamente aqui que reside o primeiro ponto de atenção: esses momentos não devem ser entendidos apenas como parte de um processo adaptativo, em que a criança, uma hora ou outra, vai aceitar essa rotina e se enquadrar nos moldes pensados pelos adultos para a organização dos espaços e dos tempos. O próprio significado do termo adaptação é esse: ação ou efeito de adaptar(-se), ajustar uma coisa a outra. Ou seja, trata-se de um movimento, por vezes, unilateral – e é por isso que estamos nos desprendendo dessa palavra.
Por outro lado, quando falamos em acolhimento, podemos também partir da própria definição para captarmos por que estamos diante de uma perspectiva mais adequada. Acolher é o ato de oferecer ou obter refúgio, proteção ou conforto físico; é abrigar(-se); é amparar(-se) – entendimentos que se alinham muito melhor a toda a preparação, escuta e observação que ocorrem nas relações estabelecidas com as crianças e famílias. Aliás, vale ressaltar que são ações que não ocorrem apenas nesses primeiros dias, mas ao longo de todo ano, em busca de profundas experiências de aprendizagem.
Avaliação, Leitura e Jogos
Esse combo une três cursos completos que vão trabalhar com o seguintes temas: como fazer uma avaliação de qualidade; como planejar atividades de leitura; e como trabalhar com jogos na Educação Infantil
Escuta atenta, empatia e construção de significados
Ainda trazendo um pouco de relato do meu cotidiano, nessas primeiras semanas, organizei com a equipe de sala estratégias para receber as crianças e suas famílias, incluindo no planejamento propostas de brincadeiras e interações que são de interesse da faixa etária. No entanto, buscamos também separar momentos para uma escuta atenta, algo extremamente necessário nesse período que estamos vivendo, em que muitos tiveram perdas irreparáveis e sofrem fragilidades econômicas e sociais.
Assim, estamos diante de um processo de acolher as totalidades das crianças e das famílias, o que acaba também sendo bastante rico para nós, enquanto profissionais e escolas. São ações que consolidam as nossas instituições e mesmo o nosso trabalho como lugares de construção e de evolução, o que nos torna cada vez mais humanos, e mais do que isso, capazes de ser humanizadores.
Com isso, fecho essa reflexão voltando ao raciocínio de alguns parágrafos atrás: quando falamos em ‘adaptar-se’, estamos indicando a elaboração de estratégias para atender as necessidades de avanço da criança, visando torná-las parte de um grupo ou de uma instituição. Porém, é válido termos em mente que o ato de acolher é muito mais integral e efetivo, porque nos sugere empatia, envolvimento, reciprocidade e constância.
Afinal, estamos acolhendo o que é novo, e também o choro, o dente que cai, o primeiro tombo de bicicleta, os acontecimentos do dia a dia, enfim… E tudo isso se dá em uma fase em que as crianças estão vivenciando as singularidades da infância e construindo os significados de tudo ao seu redor, numa jornada que vai se dar durante todo esse ano letivo que está apenas começando.
Um abraço e até breve!
Fonte: https://novaescola.org.br/
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