Espaços diversificados de aprendizagem: como garanti-los e impulsionar o ensino em sua escola
Olá professores! Trago um assunto sobre: Espaços diversificados de aprendizagem: como garanti-los e impulsionar o ensino em sua escola.
O amigo leitor e a amiga leitora que me acompanham há algum tempo por aqui já devem ter percebido o quanto eu gosto (e falo) de futebol. Quando eu era pequeno, não havia diversão maior do que jogar no portão de casa. O limite do campo era o meio-fio, marcávamos o golzinho com sandálias, fingíamos que os paralelepípedos eram grama e, ao fazer um gol, virávamos Romário, Bebeto… Aquilo era mágico!
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Então, eu me lembro de uma declaração do Tite, técnico da seleção masculina de futebol, criticando o estádio do Maracanã aqui no Rio de Janeiro, em outubro de 2021. Segundo ele, “[o gramado] é contra o futebol, contra a qualidade, contra o espetáculo”. Para quem, como eu, cresceu brincando com bolas improvisadas de meia, em campos de várzea e com muito mais terra do que grama, pode gerar um estranhamento a exigência de que nossos craques joguem em um ‘tapete’. Mas a verdade é que o treinador está certo: os melhores resultados, o alto rendimento e a qualidade técnica surgem especialmente quando oferecemos aos jogadores as melhores condições para expressarem o seu talento.
Assim, se levarmos essa perspectiva para a esfera escolar, a analogia é rápida e direta. Se na infância, quando brincávamos de ‘escolinha’, uma simples lousa com giz já materializava uma sala de aula, quando pensamos em um ensino profissional com qualidade e que impulsione os processos pedagógicos, precisamos oferecer aos nossos professores e alunos espaços diversificados de aprendizagem – que incluem, sim, uma sala de aula estruturada, mas que podem e devem ir muito além. A seguir, compartilho algumas sugestões para esse trabalho, e experiências que já conseguimos desenvolver na escola que dirijo.
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Por uma infância ‘desemparedada’
O movimento de tornar a escola atrativa, potencializando os ambientes de forma inteligente, nunca deve sair do horizonte de uma equipe gestora. Só que esse trabalho não pode ser restrito à direção. Para dar certo, a ação necessita do olhar e do planejamento dos três segmentos que compõem a comunidade escolar: professores, coordenadores pedagógicos e gestores.
Assim, pensar em uma infância ‘desemparedada’, como gosta de citar a coordenadora pedagógica Tatiana Moura, que trabalha comigo na Escola Municipal Professora Ivone Nunes Ferreira, requer educadores que planejem aulas para além do modelo expositivo, coordenadores pedagógicos que orientem a equipe docente neste sentido, e gestores comprometidos em equipar e proporcionar espaços diversificados de aprendizagem.
Aqui, faço uma ressalva importante: sei que quando pensamos em um país com dimensões continentais e tanta desigualdade social como o nosso, encontramos escolas com e sem quadra, com e sem auditório, com e sem pátio, e locais que sequer possuem um banheiro. Inclusive, dentro de uma mesma rede de ensino, as estruturas dos prédios e os espaços podem ser muito diferentes entre si. Então, não se trata de romantizar a precarização e idealizar o improviso: é muito importante que secretários de Educação e coordenadores de secretarias também se engajem para viabilizar uma escola estruturada e que vise um ensino que extrapole a sala de aula.
No meu caso, a instituição em que sou gestor desde 2019 foi inaugurada há menos de três anos. Então, por um lado, não sofremos com problemas de manutenção, e o prédio tem auditório amplo, quadra coberta, pátio interno enorme, quatro canteiros para horta orgânica. Por outro, o desafio de uma unidade recém-inaugurada é, além da limitação de pessoal, o fato de quase não recebermos verbas ao longo dos doze primeiros meses. Foi nesse contexto que iniciamos algumas experiências nessa busca por ‘desemparedar’ a infância, e acredito que muitas delas podem dar uma força na hora de construir isso nas suas escolas, considerando, é claro, a realidade específica de cada uma.
Aproveitando espaços: as diferentes “salas de aula” da Ivone Nunes Ferreira
Nosso processo de potencializar os espaços teve dois focos principais: criar planejamentos constantes para os ambientes – já que, no caso de uma instituição nova, há o risco de se tornarem ‘elefantes brancos’ se não forem bem aproveitados – e buscar alternativas para viabilizar o uso desses ambientes, considerando o orçamento mais restrito em uma escola recente.
Então, nos mobilizamos para organizar vaquinhas e rifas; obtivemos um bom lucro fazendo uma festa junina com a comunidade; e no final do ano, promovemos um leilão de artes com releituras e criações das crianças. Essas iniciativas não podem e nem devem ser uma constante, mas por meio delas, conseguimos comprar terra e sementes para os canteiros, iniciamos a construção de um aviário, pintamos o chão do pátio com desenhos de amarelinhas e de circuitos lúdicos, e custeamos uma bela festa de dia das crianças.
Com tudo isso, conseguimos viabilizar “salas de aula” em diversos ambientes. Afinal, na escola, uma horta está longe de ser ‘só uma horta’, não é mesmo? Nela, aprende-se sobre o tempo do plantio, a origem do que comemos, fora o próprio contato com a terra. É possível, ainda, implementar projetos baseados na Educação alimentar, na sustentabilidade, no desenvolvimento de novos hábitos, fora a possibilidade quase infinita de se trabalhar conteúdos cotidianos a partir de novas abordagens – por que não estudar Matemática pesando as hortaliças, por exemplo?
Aqui entra a minha pergunta: amigo leitor e amiga leitora, vocês têm ideia de quanto é o custo de uma horta orgânica? Da minha experiência, posso dizer que os quatro canteiros da Ivone saíram por menos de R$50 mensais. Foram cem sacos de terra a R$5,50 cada, e sementes que compramos por preço irrisório. Ah, e para quem não tem canteiros na escola, que tal criá-los reaproveitando garrafas pet? É interessante aproximar a comunidade nesse movimento, e promover o debate de ideias sustentáveis.
Assim, fecho a coluna de janeiro refletindo que uma horta (com canteiros ou garrafa pet); um pátio com o chão pintado trazendo jogos; uma parede com desenhos que os alunos possam interagir; uma oficina com instrumentos musicais desenvolvidos com sucata, enfim, qualquer ação desse tipo vai além de uma mera intervenção: trata-se de iniciativas que possibilitam aprendizagem, ‘desemparedam’ a infância, e o melhor, possuem um custo baixíssimo.
Ao final, ganham as crianças, que aprendem sem perceber; ganha o professor, que diversifica a sua aula; e ganha a escola, que se torna mais viva.
Fonte: https://novaescola.org.br/