Coordenação pedagógica: como organizar uma formação continuada sobre planejamento?

Coordenação pedagógica: como organizar uma formação continuada sobre planejamento?

Nas últimas semanas, as reportagens especiais de NOVA ESCOLA têm se debruçado sobre um tema que é central no dia a dia de todos os professores: o planejamento. Assim, depois de detalharmos os principais pontos que tornam um planejamento efetivo e assertivo, vamos agora entender qual é o papel do coordenador pedagógico ao longo de todo esse processo.

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“Trata-se de um profissional muito importante, realmente central na escola, afinal ele é o formador dos professores”, sintetiza Maria Paula Twiaschor, formadora de professores que integra a equipe de gestão da Comunidade Educativa CEDAC, em São Paulo (SP). “Ele está ali para apoiar os docentes no planejamento, olhando tanto para questões ligadas às atividades desenvolvidas em sala de aula, quanto para a aprendizagem dos alunos.”

Eliane Zanin, educadora com mais de trinta anos de experiência em escolas públicas, em diferentes funções, inclusive na coordenação pedagógica, destaca que é importante que a gestão promova uma verdadeira mudança na perspectiva dos professores a respeito do planejamento.

“Reforço sempre que essa é a primeira barreira que a gente tem que quebrar: muitas vezes, o professor perde muito tempo olhando apenas para o ensino em si, selecionando atividades, sem um objetivo definido”, afirma a especialista, que  atualmente é formadora de professores da NOVA ESCOLA e do Programa ImpulsiONar. “Na verdade, é preciso que o professor foque inicialmente no objetivo de aprendizagem, para depois procurar experiências de aprendizagem e atividades que estejam alinhadas a esse objetivo.”

Segundo Eliane, desenvolver essa nova mentalidade não é algo simples, já que existem professores com muitos anos de prática que ainda não planejam dessa maneira – e é por isso que as formações continuadas nesse tema se tornam peça-chave no cotidiano escolar.

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Sugestões de como começar

Horários bem definidos: Em primeiro lugar, é interessante que sejam formações continuadas em serviço. “Idealmente, é algo que deve acontecer dentro da escola, em momentos específicos para estudo, reflexão e planejamento, dentro da carga horária do professor”, comenta Maria Paula. “Os Horários de Trabalho Pedagógico-Coletivos (HTPCs) são garantidos e devem ser usados, mas, às vezes, acabam atropelados por outras demandas. Por isso, é importante que os diretores façam a interlocução com as redes e secretarias, visando garantir essas horas de planejamento e formação no dia a dia das escolas públicas.”

Planejamento reverso: “Na formação de professores sobre o tema planejamento, a gente trabalha com a ideia do planejamento reverso”, detalha Eliane Zanin. “É uma ideia que se situa dentro daquele foco prioritário no objetivo de aprendizagem. Então, o professor deve começar seu planejamento refletindo sobre pontos como: o que ele almeja? O que espera que o estudante alcance no final daquele dia, aula ou unidade? Em resumo, o que o aluno precisa saber no final. Então esse é o primeiro foco, que deixa muito clara a intencionalidade pedagógica.”

Coleta de evidências: De acordo com Eliane, esse é o passo seguinte que uma capacitação de professores deve enfatizar. “É preciso pôr na pauta do planejamento como o aluno vai mostrar para o professor que ele sabe, o que ele aprendeu, e o que eu espero no final de tudo”, explica. “  chamamos isso de Raio-X, algo como um produto final.”

Assim, depois de refletirem sobre o que o aluno precisa saber para atingir o objetivo, os professores devem se debruçar sobre a metodologia e analisar como incorporar recursos e as melhores experiências de aprendizagem. Eliane salienta ainda que, no planejamento, os educadores devem entender que a avaliação é um processo e não se dá necessariamente no final da aula.

Condução das aulas: “Depois de trabalhar a coleta de evidências, a formação deve se atentar a como fazer uma boa gestão de sala de aula”, ressalta Eliane. “Nessa linha, entram tópicos como metodologias ativas e agrupamentos, conceitos como aluno protagonista e mesmo pensar sobre interações e trocas entre os estudantes.

Compartilhamento de experiências: Por fim, as especialistas enfatizam que a socialização de boas iniciativas docentes deve permear todo esse processo. “O coordenador pedagógico tem que promover uma capacitação muito pautada na própria prática”, enfatiza Maria Paula. “Assim, é possível levar para as formações algo na linha ‘olha só essas situações que deram certo em uma turma e podem ajudar vocês professores a se planejarem’”. Como reforça Eliane Zanin, o compartilhamento de ideias e estudos contribui para o refinamento das ações pedagógicas.

Para auxiliar nesse momento de formação de professores em planejamento, elaboramos um modelo de roteiro formativo, com o apoio da nossa consultora pedagógica e integrante do Time de Formadores da NOVA ESCOLA, Priscila Almeida. Você pode baixá-lo gratuitamente clicando no botão abaixo:


A experiência no dia a dia de uma escola pública

Bruna Albieri Cruz da Silva, que atua como coordenadora pedagógica desde 2017 na Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Maria Chaparro Costa, em Bauru (SP), diz que, em relação ao planejamento, é função da coordenação fazer a ponte entre necessidades da escola, práticas de ensino e currículo. “Isso envolve orientações de como desenvolver as atividades da melhor forma e mesmo de como auxiliar um aluno que tenha uma dificuldade maior, já que o professor, na correria, às vezes não consegue pensar em algo mais direcionado.”

Na rotina escolar, a educadora explica que essa formação em planejamento ocorre em horários reservados, como nos momentos das chamadas  ATPCs (Atividades de Trabalho Pedagógico Coletivo). No caso dos professores adjuntos ou substitutos que não participam desses encontros, eles recebem orientações no dia a dia.

Bruna conta alguns detalhes de como esse apoio aos professores tem se dado na prática neste início de 2022, ano em que o retorno presencial se efetivou. “No comecinho de fevereiro, tivemos o planejamento anual, em que, diferentemente das ATPCs do dia a dia, todos os professores participaram”, relembra. “Esse momento deu origem ao chamado plano de ensino, que é dividido por bimestre e inclui conteúdos, procedimentos, objetivos, avaliação, enfim, tudo aquilo que foi projetado para o ano.”

Por conta do contexto atual, o planejamento anual envolveu um olhar ainda mais amplo. “Nós da gestão orientamos para, no primeiro mês, pensar no acolhimento, em como receber esse aluno que ficou afastado durante muito tempo, já que aqui na nossa rede o retorno ainda não era obrigatório no ano passado. O foco era construir momentos de escuta e trocas de experiência e, para isso, foi necessário planejamento”, comenta a coordenadora. “E também consolidamos orientações para atividades e ações que permitissem que os professores conhecessem os alunos, as dificuldades que enfrentam e o nível de aprendizagem em que estão.”

Tudo isso possibilitou que o trabalho avançasse. “Agora que os professores já conhecem as turmas e acolheram os alunos, recentemente fizemos o replanejamento pós primeiro mês. Analisamos os dados e pensamos em adequações ao plano de ensino, com reflexões do tipo: ‘qual é o meu objetivo com a turma? Se metade do meu 3º ano não está alfabetizado, o meu objetivo nesse momento é alfabetizar’”, relata Bruna. “Sempre deixamos claro que o plano de ensino anual precisa ser ‘vivo’ e revisitado, especialmente nesse momento desafiador.”

A coordenadora acrescenta que o apoio aos professores se dá também no acompanhamento do planejamento semanal, em que as educadoras detalham, aula por aula, como pretendem atingir os objetivos, e no nível emocional. “Às vezes, os professores se sentem ansiosos ou angustiados já que, por um lado, eles têm um currículo a cumprir e, por outro, precisam fazer adequações. Então, também é nosso papel acolhê-los.”

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Como apoiar o planejamento em projetos

Pensando em discussões atuais na Educação, como o uso de metodologias ativas, a consultora pedagógica e formadora da NOVA ESCOLA, Priscila Almeida, enfatiza que o coordenador tem a possibilidade de fomentar o trabalho com projetos. “Se bem planejados, eles são altamente engajadores,  possibilitam o trabalho interdisciplinar e permitem o desenvolvimento de habilidades socioemocionais.”

É isso que acontece na Escola Municipal Coelho Neto, no Rio de Janeiro (RJ), que está implantando o projeto Ginásio Experimental Tecnológico (GET) para os estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental. Trata-se de um modelo de trabalho que consolida o local como uma escola voltada a projetos, muito pautada pela cultura maker.

A coordenadora pedagógica Márcia de Oliveira Araújo Maia, que é professora na instituição e assumiu o cargo na gestão em 2018, comenta que o trabalho com projetos tem as suas especificidades. “Eu como coordenadora preciso ter o meu próprio planejamento e estudar bastante, me apropriando desses conceitos antes de transmiti-los nas formações.” Ela explica que os encontros geralmente ocorrem nos momentos reservados para isso, nos CEs (Centros de Estudos). Todos os educadores têm carga horária de 40 horas, o que possibilita as formações.

“Recentemente, fizemos uma formação de aula maker bem ‘mão na massa’, com apoio dos profissionais da secretaria municipal, algo que ocorre com frequência quinzenal”, conta. “E agora, em abril, teremos uma semana socioemocional, para apresentarmos um projeto nesse tema, que vamos construir com os alunos.”

Além disso, a interdisciplinaridade também dá as cartas no dia a dia escolar, cabendo à coordenação ser uma espécie de ‘costura’ para apoiar os planejamentos. “Temos um trabalho com os chamados projetos integradores. Por exemplo, o professor de História vai articular com os professores de Matemática e Ciências, com nosso apoio nos Centros de Estudos, um projeto sobre poluição do ar. Nesse momento, nos juntamos, realizamos leituras e reflexões e colocamos o projeto em pé.”

De acordo com Márcia, esse trabalho envolve muitos desafios, mas tem grande relevância no contexto atual. “Não é fácil mudar uma prática que você faz há anos do mesmo jeito. Há professores com mais de quarenta anos de sala de aula, e é tudo muito novo”, diz. “Mas o nosso grande objetivo tem que ser o de inovar na Educação, preparando os estudantes para os desafios do mercado de trabalho e dessa cultura digital muito forte que vivemos. Se vai ser o melhor para o aluno, a gente não tem nem que pensar duas vezes.”

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Devolutivas e feedbacks

Segundo a formadora Maria Paula Twiaschor, depois da capacitação, é importante analisar como os professores vão agir a partir desse planejamento. “A observação de sala de aula se torna, desse modo, um recurso útil, porque às vezes o professor está inserido na situação e não enxerga tudo justamente por estar vivenciando aquilo”, aponta. “Mas é importante que ela seja regular – nada de pegar o professor ‘no pulo’ – e que tenha os pontos de observação bem definidos, para depois analisar o que foi bom ou não e por quê.”

Nesse mesmo raciocínio, Eliane Zanin indica que o ideal é combinar com o professor o melhor horário para fazer a observação em sala, pegar o planejamento elaborado e verificar como ele o coloca  em prática na sala. “Sempre reforçando que esse é um trabalho de apoio e que não se deve ver o coordenador como um fiscal.”

Ela diz que o ideal é elaborar uma planilha de observação em sala de aula, com indicadores que perpassem temas como planejamento e organização, gestão de sala de aula, interação entre os estudantes e o próprio relato de experiência do professor. Esse compilado auxilia, posteriormente, a consolidar as necessárias devolutivas. “Uma recomendação é enviar uma cópia da planilha preenchida ao professor e, nos momentos individuais, iniciar o feedback com os pontos positivos. Em seguida, focar nos aspectos que precisam ser melhorados, já com sugestões para essa melhoria.”

Por fim, a formadora lembra que esses pontos positivos que foram observados podem compor a já mencionada socialização de boas práticas docentes, nos encontros formativos. “O objeto de trabalho do coordenador pedagógico deve ser sempre o trabalho do professor, porque é lá na sala de aula que tudo vai acontecer”, salienta. “Especialmente após dois anos de pandemia, o planejamento e a gestão de sala de aula são pontos cruciais para a recomposição de aprendizagens, de fato, acontecer.”

Fonte: https://novaescola.org.br/

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